Errante

Entre um café e a vida

eu espalmei a minha mão

e triste e sonhador, disse adeus

acenando contra a imensidão

pejada de uma multidão vazia

que, atordoada, se locomovia

contrariada e sem vontade

pelas artérias da cidade...

Olho através da vidraça

toda essa gente que passa

e permaneço mudo e austero

acenando um adeus sincero

para os que riem ou choram nesse instante...

Penitentes!

De semblante frio e caminhar errante...

Amargurados e com uma aura de desgraça

ao atravessarem a praça...

Que verdejante, desdenha da penumbra,

que aos poucos cai com a noite

cobrindo de treva

o ar triste da multidão

e de inutilidade

o leve acenar da minha mão!

Jacinto Valente
Enviado por Jacinto Valente em 11/02/2007
Reeditado em 18/02/2021
Código do texto: T377685
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