OUTRO AZUL DE AZUL SE PUNHA
Os ouvidos hoje dormem
No telhado das estrelas
Onde o ontem me procura
Quando o hoje me deseja
Já não sei se de mim parto
Se os pedaços que ficam
São de mim porque não sou
A estampa do tecido.
Os olhos fingem castanho
Das nuvens de outubro
Ao som das lamparinas
Queimando sonhos e lutas
Ninguém viu o que tornou
Os abraços dos amigos
O recado da amante
E o prazer de estar sozinho.
A boca fala da culpa
O sorriso se engasga
O vagão deixa saudade
Nos jardins da estação
Sozinho, mastiga além
Dos montes e das neblinas
A alma que perfurou
A pele de todas as horas.
A mão toca o pecado
Que até foi muito santo
Foi assim sentido quando
Outro azul de azul se punha
É agudo no presente
Mas apenas amassado
O papel que vai descrito
No desenho dessas vidas.