SILÊNCIO EM FUGA

Quando me calo

é quando mais falo.

É quando mais falas

que a palavra encurralas.

A palavra encurralas

e no medo tu resvalas.

Silêncio não é intervalo.

Muito menos é gargalo.

Quando eu silencio

Flui em mim um grande rio.

Flui em ti um grande rio

nascido do teu desvario.

Nascido do teu desvario

corre sem leito, o vadio.

O silêncio não é ralo.

O silêncio é um halo.

Quando emudeço

não sou quem pareço.

Não és quem pareces

pois tu madureces.

E tu madureces

na conversa contigo.

O silêncio é abrigo.

O amigo mais antigo.

Lina Meirelles

Rio, 13.07.12