RETINAS

São muitos pastores pra pouco rebanho,

muita água e pouco banho, que até me acanho,

padres, ministros, beatos e clanestinos.

Horóscopos e cifras decidindo destinos.

Analogias, filosofias, teorias,

e pouca prática nos iludindo,

santos, divinos, felinos, rabinos

todos piratas, todos primatas.

Tirem as patas do meu calabouço,

se comem a carne não me tirem o osso,

não quero migalhas da nossa mazela,

nem a volúpia da doce favela.

Quero a retina longe da fumaça,

dessa inconha que a vista embaraça,

que dá vergonha quando o efeito passa,

eu sou palhaço, mas não acho graça.

A vida é um círculo, é um circo,

perderam o senso do ridículo,

lá da plateia batendo palmas,

a tutameia, à miséria acalma.

No fim de tudo só resta o nada,

a alma suja a mente lavada,

a cara deslavada da burguesia,

que fede muito, mas tem regalia.

Fica a nobreza escravizando a plebe,

que pra esquecer, fuma e bebe,

e se embriaga e se esquece de esquecer,

ninguém se lembra da ganância do poder.

Saulo Campos- Itabira MG

Saulo Campos
Enviado por Saulo Campos em 12/07/2012
Código do texto: T3773877
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