RETINAS
São muitos pastores pra pouco rebanho,
muita água e pouco banho, que até me acanho,
padres, ministros, beatos e clanestinos.
Horóscopos e cifras decidindo destinos.
Analogias, filosofias, teorias,
e pouca prática nos iludindo,
santos, divinos, felinos, rabinos
todos piratas, todos primatas.
Tirem as patas do meu calabouço,
se comem a carne não me tirem o osso,
não quero migalhas da nossa mazela,
nem a volúpia da doce favela.
Quero a retina longe da fumaça,
dessa inconha que a vista embaraça,
que dá vergonha quando o efeito passa,
eu sou palhaço, mas não acho graça.
A vida é um círculo, é um circo,
perderam o senso do ridículo,
lá da plateia batendo palmas,
a tutameia, à miséria acalma.
No fim de tudo só resta o nada,
a alma suja a mente lavada,
a cara deslavada da burguesia,
que fede muito, mas tem regalia.
Fica a nobreza escravizando a plebe,
que pra esquecer, fuma e bebe,
e se embriaga e se esquece de esquecer,
ninguém se lembra da ganância do poder.
Saulo Campos- Itabira MG