SILÊNCIO...

Silêncio!

Eu estou falando...

Do tédio e da solidão

Do inferno e da multidão

Das mulheres e do tesão

Do amor e do perdão...

Silêncio!

Eu estou falando...

Da insensatez e da nudez

Do vinho e da embriaguez

Do avarento e do cortês

De ti mesmo que não vês

Do meu mundo e de vocês...

Silêncio!

Eu estou falando...

Mesmo rindo, mesmo brincando

Gesticulando, eu estou falando...

E não precisas olhar-me com desdém

Nem atirar nenhum vintém

Nem comentar com ninguém

Nem falar mal ou bem...

Silêncio!

Eu estou falando...

Estou falando da vida

Das chagas e feridas

Das procissões compridas

Dos amores e das caídas

Das subidas e descidas

Da euforia da bebida

Da calma e da pirraça

Da lucidez e da cachaça

Da alegria e da desgraça

Silêncio!

Eu estou falando...

De tudo de belo e sutil

Do feio e de coisas mil

Do bêbado que caiu

Do mendigo que cuspiu

Da mulher que lhe sorriu

Da lágrima que ninguém viu...