vergonha e passagem

Ao enterro daquele

Sonho, à porta do caixão

Gente chorava, sucumbiam-se

A perda, a agrura, ao sentimento

De se saber mais só, menos embelezado...

Menos embasados, inseguros ainda...

Olhávamos uns aos olhos dos outros

Envergonhados, com cravo na mão...

Cada olhar se desviava como

Se fosse feio ter sonhado tanto

Como se fosse feio carregar algo

De inocente...como

Se o paraíso não viesse antes

Dos calabouços que compõe

Nosso caminho...

Jogávamos terras sobre

O esquife bem feito,

De madeira de lei, alto preço

Como era alta mesmo,

Mesmo que negue, o valor

Da ilusão, merece o caixão...

Merece essa cachaça que vamos

Tomar depois em homenagem ao morto,

Que viveu de forma tão intensa,

Tão inteiro, tão mandão...

Vamos beber a sua força

À sua multidão encarcerada...

E essa brisa que já começa soprar

E logo mais tarde, depois de alguns

Anos, quando a vergonha passar,

Seremos apenas rostos lívidos

Aliviados, cada um em sua casa

Cuidando de suas vidas.

Alex Ferraz Silva
Enviado por Alex Ferraz Silva em 11/07/2012
Código do texto: T3772203