vergonha e passagem
Ao enterro daquele
Sonho, à porta do caixão
Gente chorava, sucumbiam-se
A perda, a agrura, ao sentimento
De se saber mais só, menos embelezado...
Menos embasados, inseguros ainda...
Olhávamos uns aos olhos dos outros
Envergonhados, com cravo na mão...
Cada olhar se desviava como
Se fosse feio ter sonhado tanto
Como se fosse feio carregar algo
De inocente...como
Se o paraíso não viesse antes
Dos calabouços que compõe
Nosso caminho...
Jogávamos terras sobre
O esquife bem feito,
De madeira de lei, alto preço
Como era alta mesmo,
Mesmo que negue, o valor
Da ilusão, merece o caixão...
Merece essa cachaça que vamos
Tomar depois em homenagem ao morto,
Que viveu de forma tão intensa,
Tão inteiro, tão mandão...
Vamos beber a sua força
À sua multidão encarcerada...
E essa brisa que já começa soprar
E logo mais tarde, depois de alguns
Anos, quando a vergonha passar,
Seremos apenas rostos lívidos
Aliviados, cada um em sua casa
Cuidando de suas vidas.