Eu poderia ir para bem distante
E não haveria uma palavra que preste,
Um verso que valha no que calha num poema qualquer
Para deixar para alguma provável posteridade...

Eu poderia descer a todos os infernos
E a poesia seria só esta coisa a arder,
A se consumir em silêncios flamejantes,
Eu voltaria de lá o quanto antes
Antes mesmo de gostar demais desta solidão...

Eu poderia, mas não vou...
Fico preso no instante supremo daquele olhar
E não sei disso tudo em volta que não vejo,
Disso tudo em volta que não ouço e não sinto
Disso tudo que não penso, que nem imagino
Então eu minto essa suposta morte
E em viver sempre consinto...

Eu poderia buscar nas lembranças que não tenho
No esquecimento mais absoluto que sempre mantenho
Quase tudo e nada de mim suspenso entre dois dilemas
O abismo de viver e o voo que é morrer, eu poderia dizer
Com a mais absurda e inexplicável poesia que cantasse
A glória de nunca dizer, de nunca ser, de nunca ter
Todas essas dores que quero tanto esquecer
(os meus passos marcados, as minhas asas quebradas)

Mas não sei nunca para onde voo
Nunca sei para onde é que vou...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 11/07/2012
Reeditado em 07/05/2021
Código do texto: T3771845
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