DE COMO SE MARAVILHAM OS ANJOS COM OS HUMANOS E ALGUNS SORRISOS QUE OS FAZEM REBELAREM-SE NOS CÉUS
DE COMO SE MARAVILHAM OS ANJOS COM OS HUMANOS E ALGUNS SORRISOS QUE OS FAZEM REBELAREM-SE NOS CÉUS
De asas devidamente aparadas
Caminham com olhar ingênuo
Entre as flores suspensas
Nesse jardim surpresa
Que inadvertidamente inventam
Percebem aromas que desconheciam
Quando nos ares viviam
Com os pés presos à terra
Vendo coisas do ângulo cristão
Têm medo da largura do coração
Os que sempre aqui estiveram
Passam pelos anjos em desarmonia
Se minhas asas fossem amplas
Poderia voltar à utopia
E nada mais me atingiria
Mas essa ordem inestante
Que obedecem com devoção
Manda que passem os dias
Com as asas recolhidas
Fingindo-se multidão
Assim caminham nas horas
Experimentando sensações
Inventando momento e glória
Para dar alguma emoção
A essa estadia temporã
Quando chegar o tempo
De exercício findo, abscidar
Poderemos retornar ao infinito
Seguindo correntes de vento
Carregando os que vieram acá
No momento da partida, sursis
Em que os viajantes se acham nos ares
Aceno mãos plangentes aos meus pares
Sem que saibam que já fui contaminado
Rebelando-me contra a divindade
Asas se recolhem nas alturas
Corpos desabam em profusão
Os rebelados à terra cismam em descer
Decidindo pela mortalidade
Apenas para amar de verdade
Se não fosse um sorriso iluminado
Um rosto adornado de beleza sem igual
Decerto continuaria na minha ida
Ficam as asas retorcidas, inutilizadas
Preso a esse sorriso que imobiliza
Os anjos reconhecem-se rápido
Num vislumbre, olhar repentino
Quando mergulhei nesse sorriso
Percebi que mudara o desígnio
Apenas para viver meu destino
Agora é tarde, luzes no coração
Um sorriso é tudo que possuo
Para no mundo permanecer
Surgido do rosto de uma moça
Que cativa anjos sem saber.
Para Verinha, com muito carinho:
“Pra nunca perder esse riso largo
E essa simpatia estampada no rosto”
(Guilherme Arantes)