ESCONSO

ESCONSO

Todas as ruas do mundo

Começam na porta da casa

Onde me protejo do mundo

Que vejo da minha janela.

Da soleira no alpendre

Descortino universos inauditos

Que para mim serão, sempre

Puro desconhecismo.

Nunca lá estarei maravilhado

Navegante ao mar atirado

Não movo passo decente

Que me leve ao mundo à frente.

O oceano atira suas ondas nas pedras

Que sustentam a morada.

Nem mesmo o verde pingado na janela

Me anima à aventurada.

O concreto que assentei nos pés

Me mantêm preso nessa varanda

Metade de mim viaja todas as águas

Outra parte inveja a outra que anda.

O desejo de soltar amarras

Lançar o corpo ao desconhecido

Depara-se com as adagas

Do medo guardando o morto - vivo.

Todas as ruas do mundo

Terminam na porta da morada

O homem perfilado assiste a tudo

Sem atrever-se a nada.

Raro em raro, algum peregrino

Nessas paragens perdido

Traz historias que o menino

Faz o homem acreditar ter vivido.