ERODIDO
ERODIDO
Toda a inutilidade do mundo
Guardada no meu interesse
Tudo que quero não me pertence
E roubo do inventado e descoberto
Tesouros inúteis.
Nada me comove
Posto que de tanto querer nadas
Empedregou-se o coração.
Se tudo é desejo, vontades
Torno-me coisa móvel
Ansiando, querendo, nunca amando.
Quando amo, sou
Difí¬cil é amar no querer,
Ao invejar, desejar
Que o amor acontece sereno
Entra nos olhos sem licença
Pousa nas mãos sem ardência
Vaza os ouvidos e apenas fica
Dando voltas no que é humano
Tentando resgatar o que se perdeu
Nalguma parte ausente de carinho.
Muito difí¬cil ser.
Enquanto encho o cangá
Com minhas pedras
Dificultando a caminhada
O amor vai limando arestas
Para que melhor s´acomodem
Para que menos pesem
Para que sejam nada.
Enquanto furto do mundo
As idéias, as palavras
O mundo me rouba tudo
O amor vem, insistente
Dizendo que é nada
O que furto pensando em tudo
O que posso obter do mundo.
O amor fala para o surdo.
Quando vou admirar as riquezas
Que reviro minha bagagem
Descubro apenas pó das pedras
Que o amor esfarelou na viagem
Para que menos ferissem as costas
Os desejos que pensava amarem.
Fico sozinho
No meio da estrada
Sabendo a hora ser chegada
De abandonar a carga
Percebo, nessa parada
Que passei pelo amor, apressado
Com medo de ser ele fardo pesado
Toda a inutilidade do mundo
Guardo na monstra carga
Que me cega para o amor
Servindo para nada.