ENSOMBRO
ENSOMBRO
O homem sentado na borda
Áspera da noite
Tem a lua por companhia
Embora há muito nada romantize
Imagina que se um anjo batesse
A aérea palma na janela
Decerto som ouvia-se pela cela
Sorri o homem na borda
Pensando anjos e sons
Quando o silencio o aborda
Até ser apenas um homem
A pensar gulodices
Com a leveza do nanquim
Vai-e-vem pelos cômodos
Sem marca da passagem
Lembrança de haver estado
Sua silhueta pouco ensombrece
Os móveis, paredes
No espelho, somente vulto
A contemplar de um lado
O que o outro pode pensar
Do lado de dentro ou de fora
O homem e seus troféus
De pouca monta
na aspereza,
Sem sorriso ou chaga, repensa
Cada guardado: o apreço do preço
Repõe em cada lugar as lembranças
O telefone sobressalta
Os anjos...
Torna-se homem
Atende ao chamado insistente
Debruça dois ou três momentos
De vida no aparelho
Quando descansa a mão
é apenas noite
Sem anjos
Estrelas.