DEVER
DEVER
Depois foi o tempo total
Horas de calma eterna
Lento tempo, lerda sinfonia
Si bemol
que vem de algum lugar:
da chuva
dalgum piano
Mãos de cristal no vidro.
Os homens foram em busca
dos motivos da luta
Na ferrenha trégua
recordavam a guerra
Porque eram apenas soldados
manobrados por voz roufenha
transformando-os em condenados.
Fizeram guerra
eternas horas
Vibravam na fascinante espera
dos ataques premeditados
Encontravam-se em transe
aguardando o embate
Por mais que parecesse estranho
não criam que se matavam
porque eram apenas soldados
armados da força bruta
Cegos, ensudercidos
de uma morte em dúvida
Lá fora, morriam
impunes
em horas que não cediam
seus horrores
Até que enfim
foi o tempo total
ausência obscura do bem
obscena, do mal
É chegado o momento pleno
Corpo nu, túrgido, seco
espaço aberto, peito morto
mas sereno: dever cumprido