DESAFETO
DESAFETO
Não sei em que lugar imaginário me criei.
O país donde vim não é daqui.
Os sonhos que vivi não são queridos aqui.
Aqui não há um pouco sequer de mim
Um pouco dos meus espaços
Um resto de luz clara no dia deserto...
De onde vim
O mundo não é tão redondo, mentes tão dementes
Fácil riso, fácil afeto, fácil bem querer
O estrondo dos maremotos não afeta a calmaria
O sol não caustica as plantas
Os trovões não assustam os meninos.
Os vulcões não irrompem tão destruidores
Os homens são livres, aparentes, de corpo etéreo
As crianças voam
As águas desmancham as pedras em rodamoinho calmo
As crianças germinam pólen
Cantam, lá, os pássaros, desafiando todos os sons.
Todos sobrevivem naquilo que fazem:
O poder de existir, de igualar, de abdicar em prol do futuro.
Lá, de onde vim, tudo se coordena
Ordena-se a um só pensamento
Nada faz sentido se não for sentido
Tudo morre se não for vivido
De onde penso vir,
Existe gente como as daqui
Sem os ódios
Sem as mentiras
O desafeto daqui.