RELICÁRIO

RELICÁRIO

Rebusco em meus guardados

cartas antigas do amor indubitável

que duvidou um dia

assim acabou.

As pétalas de rosas mumificadas

no livro de poemas de amor

são provas indeléveis

do que não se provou.

Amor sem beijo

Mineiro sem queijo

Santo sem andor

As promessas de amor não cumpridas

ficaram ali, estremecidas

Temerosas de terem cometido pecado

por terem sido apenas amor

sem corpo dentro

Amor, como diria, sem vida.

Mais um dia se passou nessa distância

sem gravidade

Os dias passam, as pessoas desabam

vai-se a mocidade.

Os dias acabam, as casas desabam

na terra sem celeridade

Tudo é lento na voracidade do meu coração

quando lembro de ti

que encontro as cartas

que arremeto rumo ao passado

procurando sentir o cheiro da rosa

que um dia me destes apaixonada

que ficou guardada

junto às cartas

que nunca escrevi

Assim retorno ao passado

deito-me ao teu lado

descansando o homem de hoje

no conforto de um dia

Mais um dia se passou

sem que nada mudasse em mim

Avanço sobre o mundo

com fúria destemida

apenas para esquecer

as rosas da minha vida.