No oitavo soco

O quinto soco

o arrancou de si

e o mergulhou

numa escuridão densa

de profundezas

abissais:

lulas gigantes cortavam

velozes

o abismo

negro

insondável,

como espadas

de luzes

espectrais.

O sexto soco

o trouxe de volta,

e a dor lhe disse:

viva! Olhos inchados

abriram-se

em fendas

escuras,

que nada viram

além de sangue

escorrendo

quente

no rosto

feroz

de seu opositor.

O sétimo soco

explodiu

dentro dele

em fogo

vermelho,

o som estalando

abafado

distante,

quebrando-se

em ondas

mudas

de gosto

febril

intenso

de ferro

na boca.

O oitavo soco

o arrancou

de ser

– de ouvir, ver e sentir –

de uma vez,

como um rasgo,

um escarro,

sem conexões

de volta,

jogando-o

no mais fundo de tudo

que não existe:

– O mais puro breu.

Um último tremor

percorreu toda a carcaça.

E na imagem mil vezes reprisada

pela poderosa rede de tv,

um vômito

amarelo-avermelhado

escorria

lentamente

pelo canto

esquerdo

de sua boca.

Nos sofás,

palanques e

arquibancadas

da selvageria

indomável,

aplausos

e gritos:

Bravo! Bravo!

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 10/07/2012
Reeditado em 10/07/2012
Código do texto: T3769876
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