ZOLOFT

ZOLOFT

Não verás manhã nenhuma

Não verás.

Para onde viajas

Não há céu, luz

Ou estrela de nenhuma grandeza.

A tua passagem é sem regresso.

Não há nenhuma estação por perto

Onde possas enganar o guarda-chaves

E entrar de penetra no bonde.

Teus olhos estão cercados por espessa penumbra

E areia.

Os riscos da chuva dessa tarde

Tão repentina quanto tua viagem

Não umedeceram tuas fauces

Ou embaciaram teus olhos de hastes

Tão flexíveis quanto tuas certezas.

Os pés de fícus-benjamim da alameda

Endemoninharam, largaram folhas.

Tu nem percebestes

O frio vento que cortava nossas mãos.

Alguns negros batiam um samba no bar.

Teus dedos inertes. Tua alma pardacenta

Teus lábios cerrados

Revelavam um segredo que não nos contamos

Honestamente. As páginas da bíblia

Ilustrada passavam nas mãos do menino

Deixando ver, rapidamente, imagens esparsas.

Nasceram margaridas no trilho do bonde

Mas não davas conta

Sério que estavas na hora da partida:

O lenço riscadinho de azul, preparado no bolso.

Não verás manhã nenhuma

A voz repetia.

Serio, assentias,

Enquanto assentavas,

Alheio a tudo, no banco

De madeira descascada.