VARAIS
VARAIS
Final de dia. Tarde fria de roupas nas cordas.
Final de inverno. Um cão gane distante.
Um certo quê de opressão no peito,
Uma falta de ar, um inicio de noite.
No céu, não há estrelas. Não sobreviveram de ontem.
Certas músicas no rádio, certos ventos de setembro.
Amanhã rejuvenescerá em outro dia
Quando estarei um pouco mais velho, desgastado de mim mesmo.
Um pouco mais rude e despretensioso. Palavras haverão
Morrido em minha boca sem chance de humificar.
Os ventos de hoje, esse frio constante e cortante
Amanhã já não será o mesmo.
O mesmo vento que seca as roupas
Leva os pensamentos para algum lugar distante.
Em breve, nada do que fiz(pretendi)restará de pé.
Essa sensação de impotência e ódio, lerdo sens,
Haverá consumido as minhas (talvez, últimas,) esperanças.
Certas palavras em folhas de papel, já amarelas
Recordam-me cenas inteiras, como em filme
Cego no qual as vozes são os próprios atores
Que falam mil falas diferentes
De épocas distintas em cenário constante.
Procuro combater as palavras, dissecá-las
Dissolvê-las, enquanto pensamento.
Procuro uma abertura nesta parede à minha frente
Mas de puro, duplo e resistente concreto é feito o passado
Que revejo, confeccionado por minhas mãos
Que não me revelaram tais habilidades.
Amanhã será tarde, muito tarde, para recomeçar
Novamente com gosto de primeira vez.