UNIVERSOS

UNIVERSOS

Ontem, na miséria dos meus pertences,

descobri que há universo neles.

Quando debrucei-me na janela

que vi as casas destelhadas,

crianças minadas

e bêbedos

percebi, ali também, um universo.

E há universo nessa boca triste

que expira morna nicotina

no meu ombro frio

e universo há nas rodas

que estremecem as janelas

carregando sobre si

fardos de universos inusitados

que nunca serão desvendados.

Senti universo nas luzes

mortiças do final de dia

que era completamente diverso

do amanhecer.

E cada parte do dia

com cada um de seus elementos

era outro e novo universo

que brotava do meio das coisas

de dentro das gavetas

dos sons rotineiros

das surpresas da alma.