TORMENTA

TORMENTA

Na passagem pelo Cabo,

a tormenta apavora as velas.

Eiiia!!!!!!!!!,

o timoneiro gira o leme

como se pudesse

deter a tempestade,

conter a ventania.

O vigia alucina o sino:

delém, delém, delém.

A verga aderna ao jogo do barco.

O sino de mão não necessita,

delém delém, pesaroso,

como se desdobrasse o réquinem.

Contramestre e capitão

ajudam a cortar as amarras

aliviando o cargueiro

de pesos inúteis.

Mil olhos ansiosos

apavorados, breu,

tentam decifrar os

acontecimentos

que ocorrem … luz do dia.

Bocas convocam santos

estranhos

que desconhecem, até‚ então,

a lógica histórica

do deus europeu

Delem, delem, delem,

o sino estonteia o marinheiro

que se alucina e alucina o sino.

Delemlemdem.

O comandante, emplumado,

ordena que se desfaçam da mercadoria:

-Esvaziem os porões !

Aliviam o barco.

Lançam ao mar a carga escura.

Braços e pernas acorrentados

não dizem ai.

No fundo do mar

as algemas da negraria:

delem, delem, delem...