SORTILÉGIOS
SORTILÉGIOS
Não! Não beijarei tua boca
Nessa sexta-feira gorda
Por mais que seja triste, ou louca
Não ofereças-me teus lábios
Com baton lilás riscados
A um passo do perdão outro do pecado
Não, não me abras o peito ofegante
Dessa cor inconfundível e vibrante
Que prenuncia o abraço do amante
E os teus olhos, ah!, não m’os mostre
Assim tão vivos, cortes
Na alma expondo o espírito cor de cobre
Não inundes o ar com teu hálito
Rescendendo a canela e céu
De boca para que não o respire eu
Não. Posto haver tanta poesia
A solta na cidade
E nesse campus de universade
Ser tua boca a face da felicidade.
Não vou beijar-te, por mais
Que o exijas de mim
Vou fazer-me cego, como os
Pássaros apresados
Que cantam melhor assim
Não beijarei tua boca
Nem que essa sexta lua louca
Seja negra como tua roupa
E me caia sobre a cabeça oca.
Não! Mesmo que depois sofra
Morra!
E não me venhas dar uma última despedida
...na boca