SOLIDÃO

SOLIDÃO

É quando os amigos perdem o brio

Transformam-se em multidão

Passando lá fora, olhos sem brilho.

É vida vazia, não saber ler

É ter todas as sementes férteis na palma da mão

Sem haver campo para semear.

É ter todo o tempo do mundo

Sem saber escolher a direção.

Um canto imundo, impuro. Hesitação.

É precisar desejar amor qualquer

Que nem amor seja. Bêbado desejo

Ou se amar solitário na cama e penumbra.

É ver, na rua, os tristes que andam

(sabendo-se um deles, sem ter como arribar do chão)

que se excomungam.

É estar sentado nesta estação

Aguardando um trem que de antemão

Sabe-se que não vem.

É aguardar notícia de alguém em qualquer

Lugar do mundo; querer ser lembrado por

Outro coração, sabendo que não há ninguém.

É a decisão de guerra do governante

O descanso do guerreiro em exaustão

O prazer maior do homem, no preciso instante.

É o mastro do barco, espigado, imponente.

O olhar do marinheiro, vazia expressão

Quando a nau fica cega para o continente

É isso: o frio, o vazio, o infinito, o grito

O amor que não veio, o freio, a essência do não.

Para quem existes, solidão?