SENSUAL
SENSUAL
De RRR
Assim, de repente, meu coração se abastece de esperança
Coisa vã, coisa vaga, imperpétua de felicidade
Amargas horas, doces sonhos na aurora
Leve madrugada a fugir da claridade do dia.
Perseverante, sinto meu ser se reavivar
Na chama eterna da vontade de amar
Desejo de correr em campos inexistentes
Em lugares impossíveis
Brincar como criança
Feia que sou, até parecer bonita.
Cantar, enchendo os pulmões com o ar poluído
Da nossa cidade nem um pouco de paz.
Tudo é como deveria ser e gira o mundo
Na desavença da sorte
Rolam as pessoas na luta contra a morte
Hélices varrem o céu
Da clara nuvem que se formou da fumaça.
Doente, meu coração cicatriza
Dormente, meu corpo se revitaliza
Profano teu ventre, relva fina de pelos
Nesse apelo sincero, te sugar o sêmen
Te fazer meu homem, te dar meu sonho, meu engano
Te deflorar cantando lascivas cantigas
Te comer inteiro, garfo e faca, canibalismo meu.
Te consentir um lugar em meu peito
Me aninhar em teus braços
Beber da tua boca, saciar meu bastardo coração partido
Assim, meu coração se abastece d´esperanças
Coisa vã, coisa vaga, imperpétua de felicidade
Amargas horas, doce sonho na aurora,
Leve madrugada a fugir da claridade do dia
Nós dois, amantes noite adentro
Não parou o corpo, não ressonou a alma
Maltratou-me a carne
Teus dentes cerrados na minha pele arrepiada
Tuas mil mãos de mil dedos ladinos
A explorar caminhos do meu corpo abandonado
Tua ânsia, ganância, arrogância. Tua bondade.
Dá-me tua hora de alegria, de agonia
Confiscar meus direitos de querer
Te entregar a taça da glória
Ser apenas mulher tua nas horas mesmas.
Súbito, achar em ti meu sonho desfeito
Sem querer, reerguer do cansaço meu alento
No calor dos teus braços
Poder te conquistar, te humilhar e me entregar
Sentir-te me amando
Machucando, penetrando. Delirar.
Sentindo o amor aos poucos me consumindo
Devagar me relaxando
Então enlouqueço
Te incendeio e tu me corrompes
Corruptos e anjos
Por fim, corpos laços, molhados
Entregues ao abandono
O riso sem forças para sequer sorrir
A vontade imensa de ficar
O relógio escoando nosso tempo
A água morna alivia a angústia
Uma palavra à toa, solta, dispersa no ar
Um cigarro aceso, um sossego
Uma pergunta na garganta, um impasse na voz:
Nos veremos nós?
Esse amor casto, indecente e coerente
Chama pequenina que me faz mulher menina
Que te enaltece, enrijece e contamina.
Assim permaneço tua
Continuo contigo
De dia, na rua: meu irmão, meu amigo
À noite, na cama, meu cão, meu perigo
Meu bicho, desatino e desespero.
De dia, te sonho e apenas te ouço
De noite, rolo na cama sozinha
A contar as horas, as mesmas horas em que
Meu coração se abastece de esperança
Que é coisa vã, coisa vaga, impérpetua de felicidade
Amargas horas, doces sonhos na aurora
Leve madrugada a fugir da claridade do dia.