SEGREDOS
SEGREDOS
Um dia, a angústia turgiu meu silencio:
contei a um amigo da mulher que amei.
Esse amigo apaixonou-se perdidamente
pela mulher que amei ao sentir
a minha ânsia bruta
tanta fome nua, poesia absoluta
nas noites escuras
Esse amigo quis a mulher que amei
quando percebeu suas formas justas
sua indecência absurda, sua necessidade
de ser sem contemplações.
E ficamos os dois turgidos.
Eu a ouvir do amigo o amor
pela mulher que eu amara
Ele a ouvir de mim o amor
que nutria pela mulher que ele recriara
Um dia, ela surgiu.
O amigo comeu terra
cheirou éter
bebeu ácidos
ao deparar-se com a realidade
da minha fantasia
Eu me desesperei
envelheci subitamente
embriaguei-me naquela tarde
Até vê-la partir
O amigo suspirou, benzeu-se
filosofou sua paixão pela mulher que o apaixonara
desde a noite em que a ele contara
do meu amor pela mulher que amei
e por quem ele, agora, angustiava
Cogitamos
como nos apaixonáramos
por aquela mulher
que nada dizia ao nosso amor
por duas mulheres da nossa fantasia
Ele explodiu o verbo
extrapolou a métrica
poemisou desilusão
até levantar-se para o trabalho
o árduo pão
Premeditei suícidios
inventei doença fatal
exigi um câncer cardíaco
Emborquei o copo
paguei e saí
triste duas vezes
por mim e pelo amigo
que amara a mulher que amei
que no fundo não existia
a não ser dentro da ausência
que comporta todas as fantasias
inventa mulher de nossas costelas
e depois(suspiro)angustia.