SAXOFOTE

SAXOFOTE

Se me valesse um roque

ou quem sabe um foxtrote

ou alguma ação da minha parte

eu dançaria o mambo

tossiria

cantaria um tango

Não um Gardel, sim um desastre

E ela, mesmo assim,

com tanto esforço de minha parte

não olharia

que seus olhos trairiam

o amor que em si arde

E são os seus os olhos mais lindos

disparando meus alarmes

Ah, se deixasses que te abraçasse

amasse,ameaçasse

eu, decerto, te amaria

Cão fiel, gania, ladrava, uivava

arranhava a soleira

vigiava a noite inteira

a tua porta guardava

Ah se permitisses

que exigisse suor saliva

por certo minha vida

seria constante vigília

E mesmo cansado,

quase morto

idolatraria, sorriria

te pegava nos braços

embalava

se deixasses que te amasse

Se me valesse um beijo

um olhar de desprezo

castigaria a rumba

batucaria macumba

rodopiaria mil valsas

Tonto.

Se adiantasse

recitaria mil versos

faria protestos

comícios pro-enlace;

dança do ventre, tuíste

Ah se eu pudesse

me enroscava

bateria o guizo

atacaria o frevo

sanfonaria baião

sob a lua frouxa

que no céu se mostra

em postas

e dela não ganha atenção

Se eu pudesse

se me valesse

qualquer rua seria salão

qualquer palavra

a chama

que inflama

e explode

no pagode

da paixão.

Solidão.