RURAL EXTENSO

RURAL EXTENSO

Minas vai surgindo aos poucos

Aos retalhos, em velhas fotografias

Desbotadas pelo tempo e abandono.

O que se chamava mundo

O ontho

Assume uma pequenez de, apenas,

Lugar.

Lugar chamado Minas

No coração chamado homem

E me pego escrevendo rurais

Ligeiros, debruçado sobre lembranças.

Nas velhas fotos amarelas

Nas páginas de um álbum amarelo,

Reside um pai tão velho quanto aquela terra;

Pai que me passou quantidade incerta

De genes solitários e entristecidos

De faces enrugadas pelo sol enorme.

Minas era sol, lerdeza, calor, arreios

Faiscantes de tropeiros rudes.

Minas era uma Venda, do Conto de Réis

Das estórias, tão medonhas e verdadeiras

De assombrações e mulas-sem-cabeça.

Agora é isso: avalanche de murmúrios do passado.

Minas reside, intrínseca e forte

Em algum ponto em mim.

Onde, não sei precisar.

Talvez, no corpo-homem todo.

Assim, Minas vai resistindo, e resiste, ainda.

Fico perguntando à escuridão próxima

O que será de Minas?

Não querendo reconhecer e perguntar

Como posso ser sem Minas?

Como sobreviver?

Como esquecer?

Antes, Minas era vida pura.

Depois, o homem cresceu

O amor passou

A vida vai passando.

Caíram os cabelos. Ideais arrefeceram.

Alguns sonhos perderam o rumo da minha cama

Aí, Minas era utopia, Atlântida, Shangrilá.

Do meu pai herdei algumas manias

Jeitos, ombros, solidão, cabelos.

Assim protegido, saí para a vida.

Como sempre acreditei regressar,

Minas era realidade, não lugar.

Foram tantas as noites e paixões

Tantas, que sobrariam alguns dedos

Se as contasse todas. As do jovem.

Minas já era preocupação:

Mesmo em lugares remotos,

Mares solitários

Quando o homem não conhece ninguém

E sua fé é inabalável.

Um homem pode crer em muitas coisas

Ser lutador imbatível

Ouvir confidências

Que não se lhe alterará nada

Acrescentará pouco

Quando se está sob o signo de Minas.

Em algum dos lugares onde estive

Homens trabalhavam árduo

Deuses do carvão.

Essa imagem mora em mim:

Poetas erguendo uma espécie de baluarte

Onde lê-se: LIBERTAS QUAE SERA TAMEM.

Uma legenda, lema. Uma vida inteira.

Os cabelos agarram-se no pente.

A roupa desbota, adquire novos significados.

As mãos tremem, olhos estragam

Mas continua-se a reter uma esperança

Sumida órgãos adentro: Minas.

Apenas Ela não envelhece

Não enrijece

Não escapa ou sucumbe.

Roupa seca no varal

Uma ausência inexplicável do sol

A lembrança de Minas vai fugindo

Aos poucos, devagar,

Como promessa de regressar.

Um homem envelhece aos poucos.

Depois, de repente, de uma só vez

Ele se pega completamente sozinho

Sem ouvidos, sem amigos, sem vizinhos

Completamente regido

Pelo signo de Minas.