RUÍNAS

RUÍNAS

Dedos cansados. Olhos em ruínas.

Peito apressado.

O que resta do sonho é o sono irremediável.

Perdida a noção das coisas e dos nomes

Fica no cérebro a sombria impressão

De ter valido a pena.

De haver sido útil quando tudo que resta

São esses olhos em ruínas;

A taquicardia e a impressão de ter

Sido tudo enorme farsa:

A vida foi uma fraude.

Óculos sobre a mesa, a mão aparando

A testa enrugada, perlada de suor.

As unhas amarelas, cabelos grisalhos

Iluminados por réstia qualquer de sol.

Olhos perdidos no infinito de janelas dos

prédios.

Tudo o que resta e fica são os sonhos e a

vontade

Sobrevivente até então, de mudar algo no

mundo;

De fazer algo de fato importante que desse

a essa

Alma aturdida o descanso de ser sabedora

De que valeu a pena viver tantos anos:

É preciso que haja essa impressão!

Mesmo que seja falsa.

Senão será impossível

O dito sono eterno.

Corpo trêmulo. Uma lágrima se apronta

Nos bastidores para entrar em cena; para ser

A atriz do ato que, na mudez de sua fala

Representa o fracasso.

Olhos em ruínas, dedos nodosos pelo tempo

E nicotina. Parece até insano falar em

Tanta destruição na porteira dos meus

Vinte e poucos anos.