REVELAÇÃO I

REVELAÇÃO I

O coraçao vazio

O pensamento vazio

As maos vazias

Os pés descalços

É assim que adentro ao templo,

com o olhar vago

a descobrir novos sentidos

para imagens que já me desgastaram

as vistas.

É preciso muito tacto,

milidedos

sentir as polegadas de parede fria

os pés silenciosos a pisar

com cuidado a laje da nave

para penetrar no ambiente

d'outra atmosfera:

o odor é o do silencio

de coisas velhas

madeiras que o tempo

retorce ao seu bom gosto

velas acesas, fumibrancas

a embaciar figuras,

bancos toscos de madeira negra

em meio à miragem

No ponto crítico do lugar redescoberto

toalhas d'alvo linho

em alguns pontos manchadas de vinho

uns restos de pão amarelecido.

E lá, dentro da fé, em meio

ao invisível d'homem místico,

um Deus d'olhos claros a dizer:

-Vinde a mim, cordeirolobo,

já compreendestes o sentido

que possuo, que exijo:

ser nada, estar vazio.

Vinde a mim, cordeiro pequenino,

vinde a mim, lobo até o fim.