REMANSO
REMANSO
Aos poucos, o caminho fica menos íngreme.
Ele, que diziam penoso, torna-se agradável.
As subidas foram vencidas com certo esforço
até tornarem-se hábito e, súbito, emprazeirarem.
Olhar as janelas claras sob o sol de maio
Rir com os meninos no parque, afagá-los;
não mais cobiçar as moças deslumbradas
não ansiar, capitalizar mais nada.
Viver vai se tornando exercício sem músculos,
cotidiano escancarar viveiros
sentindo prazer maior em ter os pássaros livres
a vê-los cantando partituras exclusivas.
Ouvir conversas sem abismar com mais nada.
Ter tempo para ensinar paciência aos novos
Entender a individualidade da verdade
que só a franqueza pode tornar geral,
caminhar ereto sob dias e tardes
saudar amigos com sorrisos
ajudar osmoços em seus dias difíceis
com a solução a dois passos da solidão.
Respirar fundo o que os pulmões permitem
doar tudo sem dar nada o que exigem, os Certos;
descrer em partidos, retóricas, pretensos cristos;
confiar no homem, de olhos abertos
Cochilar no banco de uma praça
sob o sol, no centro de tudo
Sonhar, traduzindo a calma
em inalterável confiança no mundo.