QUO VADIS
QUO VADIS
Onde está Deus ?
Pergunto-me no silencio exasperador.
Nas estrelas ?
A tecer edredons de estrelas ?
Até bem pouco, morava no céu.
Ironia. Gagarin foi ao espaço mais azul
Mas não o viu.
Na terra, no peito do homem ?
Doutor Barnard não o encontrou.
Na ciência, Deus não está
Nas estruturas dos laboratórios
Nas equações, miligramas
Células programadas.
E Deus não estava no fundo dos mares
Que guarda segredos
E a calma ameaçada dos peixes
Que lá, Custeau não o achou.
Onde está Deus, quo ?
Pergunta-se o arremedo de poeta
No labor do injusto pão;
De repente, ele o encontra fragmentado
Escondido em cada pulsação.
Pesaroso, o poeta toma consciência
Da onipresença:
Onde houver coisa humana
Haverá frangalho de Deus
Que não será completo, uno,
Por falta de fé, esperança, amor.
Principalmente o amor,
Profissão da esperança.
Sai o poeta às ruas.
No excesso de pressa da multidão,
Nos lugares onde anda, encontra
As várias partes de Deus.
Partes miúdas, diferentes.
Onisciência.
Novamente em solidão
Desola-se em sua reflexão:
Como conseguir Deus
Tendo a alma aturdida pela paixão ?
Sentado, rosto intrigado
O homem procura mas não encontra
Meio de unir o Deus multipartido.
No espelho, reflexo.
É preciso que se olhe um no outro
Como vendo a si próprio,
Como se encarasse Deus
Frente a frente.
Esperançoso, abre a janela.
Embaixo, na refrega do meio-dia,
Vê um Deus desconjuntado
Tentando entrelaçar-se.
Um Deus paciente que caminha.
Onipotência.
O homem sorri.
Pergunta-se:
Quo vadis, Domine ?