PROFISSÃO II
PROFISSÃO II
Busco, com a ânsia dos remidos
das palavras, o sentido
dos sons, o rítmo.
Com engenhosidade e paciência infinita
arquiteto nova froma para a sílaba
dou ao verbo outra sina
liberto-o dos modos e conjugações
com minha urgência de peregrino em deserto quente:
tenho visões estonteantes de oásis `frente.
Entre árvores escaldantes e loucura
busco a essência mais pura
da palavra mais obscura
e no claro sentido da vida ingresso, embarco
quando penetro no âmago do verso:
uma fresta para a via láctea.
Sem morrer, viver, cansar ou matar
consigo, com esforço, levantar
um castelo no ar
Esse castelo erguido ao final do dia
é o conforto da minha euforia
onde mora a poesia.
O poeta é engenheiro sem notar
a erguer sem lugar
todos os castelos no ar.