PRAÇA XV

PRAÇA XV

Paisagem

Três marinheiros passam, triplicata

A andar solenemente pela calçada

U´a mãe arrasta o filho, negro bordado,

Maravilhado pela arma do soldado.

Cheiro áspero de peixes. Escamas

Brilhantes fulgem em meio a lama.

A barca apita, última chamada.

Um índio pula; o cearense canta.

Da barca, vibra o dia a voz do fonoclama.

Pouco a pouco, surge a branca onda

De marujos roliços vindos do nada,

Invadindo a praça com suas fardas.

O menino já vai longe, os marujos embarcam

O índio guarda a serpente; o cearense, suas tralhas.

O soldado boceja, entediado, enorme e longamente,

Riscando a manhã com o brancor dos dentes.

A barca novamente apita.

Agora, repleta. Na certa, aflita.

Nosso Senhor Jesus Cristo, Eternamente !

Grita, insano, para surdos, um crente.

O cheiro de peixe sobe pesado

O crente tem os olhos tesos, encantados.

As escamas perdidas retinem no chão

Que desprende um cheiro cristão.

(O peixe serve de exemplo na pregação do irmão)

pixe, lama, sal: essências de virgem

contricta

que aos sentidos estenteia; o espírito

fortifica

Um bêbado, esquecido do tempo, espreguiça,

cospe, chinga

O crente: Jesus para sempre ! conclama,

exaspera-se, grita.

A multidão surda que passa, ri. Corre em busca do pão.

Uns poucos param, Jesus ! Sacrifício ! Redentor ! Salvação !

Logo, no entanto, espairecem pelas ruas, edifícios, estação

O bêbado fica quieto, sol, um cachorro late: suspensão.

Logo, tudo entra em movimento com o malabarista

Que come fogo, gilete, pedras. Com o contorcionista

Forma-se outro semicírculo. O crente fala de atribulações

Para o vazio. O povo ri. O cachorro dorme, o bêbado

Volta às suas alucinações.