POEMA’NDANDO DE MEDO
POEMA’NDANDO DE MEDO
Tenho medo.
Medo audível, sonoro,
Que ecoa em meus passos; táctil,
Pelas ruas de paralelepípedos
De São Sebastião do Rio de Janeiro
Neste 29 de maio.
Tenho medo sincero
Que não descortina o objeto;
Que descansa a sestra no ombro
Enquanto o braço abate o pescoço.
Os lábios assobiam João Bosco.
As pernas caminham, rápidas.
Os olhos são só visão à frente
Observando o nimbo que se forma
E avança: à frente. Avança,
Ameaçando o homem em sua solidez.
Um dia, muralhas erguidas
O cavaleiro observava seus domínios.
N’outro, no descampado, indefeso,
Olhava à volta a formação inimiga
Que aos poucos fechava o círculo.
Sou o que não estava preparado
Quando a besta mostrou o selo.
O que não sabia o que fazer
Quando o filho riu homem
E todas as letras escreveram solidão.
Sofro de mal inconvulso
Que não declara sintomas.
Apenas sinto a praga
Que eclode em meus silos;
Peste que sacrifica sem piedade
Sem que falar disso saiba a ninguém.
É noite. Ódio. Estampido. Polícia.
Com ódio e fleugma faz-se a notícia
Que amanhã aquecerá algum sono.
Aguardo, sem defesas, que o medo
Afaste meus órgãos com selvageria,
Me sacrifique de uma só vez
Pondo-se a mostra, finalmente
Emergindo sua caratonha de mim,
por dentro para toda a gente.