PIEDADE

PIEDADE

Chamo teu nome todos os dias

Em todas as línguas

Até nas que serão inventadas

Quando desvendarem o idioma

Que recheia minhas palavras.

Tuas portas não se abrem

Mesmo que recite todos os teus livros

Até os que andam perdidos

Em mares mortos e esquecidos

Transformados em deserto desmedido

És a minha rocha abissal

Que me enche olhos e alma

Que me assombra, colossal

Sem entender minhas evocações

Preces, lamentos, devoção.

Meus dentes se gastaram rangendo

Nas noites de medo assustoso

Quando teu nome sem semblante

Rodopiava na minha língua

Que é a de todos os amantes.

Senhor, dizei uma única palavra

E me terás salvo de mim

Da dor desse amor sem fim

Que, se antes alimentava,

Alimenta-se, agora, de mim.