OMISSÃO

OMISSÃO

Não é preciso que esse dia

Mais se prolongue,

O amor mora longe,

As mensagens se desfazem.

Chega de palavras, digo aos meus amigos.

Chega de palavras!

E as palavras não chegam, não bastam

Para suprir o pote imenso.

Palavrório acadêmico

Endêmico de revolução

Sem nenhuma solução.

Serei sempre o das palavras absurdas,

Das idéias atiradas a esmo,

Da fome que não abandona o ocidente.

A fome é meu ódio

E até ele é simplório:

É a marca da minha gente

Que me embaralha dentro do trem

Suando para chegar ao lar.

Serei sempre o das palavras frouxas?!

Ah, que não mais se estenda esse dia

Inacabável que retira palavras de mim.

Basta de palavras! Chega de idéias!

Pára, pensamento!

Ah, Deus da Industria e Comercio,

Das Economias Mistas e Estatais,

Das Holdings e Monopólios Opressores,

Ajudai-me a ter apenas fé

E nenhuma lucidez;

Lança-me ao ócio da ignorância

Deixai-me ser omisso e feliz

No tempo presente.

O amor mora longe,

Sr. Diretor dos Departamentos Superiores

Da Hierarquia Católica Apostólica Romana.

O amor mora longe: os custos são um abuso

Ao bolso da liberdade do contribuinte.

Será lançamento em rubrica desconfiável

Os gastos com a passagem para buscar o amor

Que não administra o capital das estatísticas.

O amor mora longe e não dá Ibope.

Esse amor que, se governante,

Será ridículo executante, ditador implacável,

Contrapondo-se a todas as determinações

Administrativas da Última Missa.

Enquanto isso, fico cá, eu, com as palavras

Da Divina Gerencia, tentando,

Em escalões subalternos

Uma indicação para ser eterno

Pela Comissão de Promoção por Mérito.

Não. Não estiquemos mais esse dia.

Deixemo-lo findar e desapareçamos,

Ocultos pela sombra da omissão e covardia.

Digamos nossas palavras imbecilizadas

Pelo sono do corpo gerador de lucros

Para os balancetes trimestrais.

Senhor Governador de Estado,

Magnífico Presidente desta Resprivada,

O amor mora longe.

Não se comovam com minhas palavras,

Não o retirem de sua sólida morada

Onde descansa, longe dessa mediocrácia.

Não se comovam! Não o exponham.

Sr. Papa, acudi contra essa determinação

Do fundo do seu coração.

Será uma loucura tal Decreto, Resolução, Encíclica,

Ordem-de-Dia:

O amor virá e, exigente, estabelecerá a revolução.

Distribuirá por igual o pão

Ouvirá desgraças

Arranjará moradias.

O amor construirá uma nação sadia.

O amor estará bem onde está,

Na utopia. Não o chamem à verdade;

Não o tragam à tona nos cofres cardíacos.

Não o provoquem.

Ele pode impor suas exigências

Faze rolar sangue em abril.

Então, o berço da humanidade

Seria o Brasil. Não!

Não cometam tal desgraça.

Não se comovam,

Senão será a guerra da paz.

Não obriguem o amor a tal viagem.

Permaneçam sentados

Tendo miragens

De um amor bonito

Pelo Deus defendido

Que nada faz, sendo como tudo é:

Omisso.