O TREM

O TREM

a Tancredo Neves

Até quando esperarei na estação

Esse trem que nunca vem?

A esperança que não tem?

Até quando os olhos fabricarão

Hóstias cristalinas de impotência

Comungadas com a frustração?

Até quando esperar o trem

Da liberdade que não vem?

Da verdade que não tem?

Mastigo o pão pisado

Pelos pés desgovernados

Da multidão que espera o trem

Multidão sem ninguém

Esperançosa da esperança que não vem.

Do princípio da plataforma

Enfim, vai surgindo o trem

Os esperantes levantam-se, ansiosos

Para embarcar naquele que de Minas vem

Que passa ao largo, ascende ao céu

Amua o povaréu e não leva ninguém.