O DECRETO DO FIM DO MUNDO
O DECRETO DO FIM DO MUNDO
No dia em que decretaram o fim do mundo
tanta gente chorou...
Era gente indo pros confins do mundo
quase ninguém pecou.
-É horrível, disseram.
-É absurdo!
O presidente na televsão falou
em linha nacional, ao vivo:
-Povo da minha terra, a hora chegou.
Povo que tanto amo, não sabeis o quanto sinto
em assinar o decreto que o senado aprovou.
-É horrível, gritaram. Absurdo!
Como é que podem decretar o fim do mundo?!
Interrogavam-se os sabem-tudo.
Os filósofos não filosofaram
Os médicos não clinicaram
Todas as mulheres choravam:
-É o fim de tudo...
Naquela noite
quando foi protestado o decreto
do fim do mundo
o povo se reuniu diante a Assembléia.
Que babiléia...
Depredaram as lojas dos turcos
Não pagaram nas lanchonetes
Os estacionamentos esvaziaram
superlotaram as creches
-É por falta de impostos?
Perguntavam os ricos sonegadores.
-Se é, esvaziaremos os bolsos!
Acumulou-se imenso tesouro.
-É horrível, horripilaram-se. Absurdo!
-Como podem decretar o fim do mundo?!
Ninguém mais trabalhava
Retiraram as economias da poupança
Realizaram suntuosos bailes
Confraternizavam as vizinhanças:
rico/pobre, ninguém mais ligava aos males.
Acidentes ocorriam a toda
Fundaram três cemitérios
que logo esgotaram as sepulturas.
Ninguém queria acreditar
que o mundo pudesse acabar.
-É horrível, comentavam. Absurdo
esse tal decreto do fim do mundo!
A Polícia Federal e seus mateiros
prendiam a torto e a direito
a todos acusando de comunismo:
-O acusado chamou o decreto
de fim da picada do capitalismo!
Os andrógenos saíram às ruas
certos de que se tornariam plumas.
Foram enormes as festanças
bebida e comida às montanhas
Uísque importado apareceu
de todo fundo de quintal
Nunca se comeu tanto nesta terra
desd'os tempos do bom Cabral.
E o tal decreto dizendo
Art. Único: o fim total.
-É horrível, pronunciavam-se, absurdo.
Os políticos abusavam das mordomias
Os doutores receitavam seus cadinhos
apenas em caso especial.
Os comícios se sucediam
Os diretores lojistas, reunidos
decretaram quase total liquidação
Os patrões davam aumento
todos os dias a seu funcionários
tentando uma remição.
Reconheceram, no Congresso, enfim
o valor do jumento
como meio de locomoção primário
e todo incremento
proporcionado por ele aos trabalhos.
Elogiaram-no em busto de cimento
Declararam-no cidadão honorário
Fizeram declarações herméticas
reconhecendo e elevando a poesia nacional
Era uma situação patética
para se reabilitarem com a estética
Um certo dia, o presidente, novamente
às câmeras compareceu, nas alturas:
-Desassinei o tal decreto, exultou.
-Passei correto carbex sobre a assinatura.
Toda aquela pobre gente
que se acostumara com o escarcéu
então, revoltou-se descontente:
-Como pode o presidente, o Expert
do país, cometer tal falcatrua!?!?
-É horrível, envergonharam-se, absurdo
que o nosso presidente,
um civil tão inteligente
desassine o decreto do fim do mundo!
O governo caiu.
Outro ascendeu (agora, militar)
só então o povo compreendeu
o que era, de fato, o mundo acabar