JORNAIS

JORNAIS

Minha boca reduz a pó

as migalhas de mim mesmo

espalhadas dentro de cada matutino

pousadas como fuligem

nas faces negras ressecadas

que espiam, curiosas

para dentro das casas.

Sou mil partes distintas

e não sou nada.

Sou o desejo faminto da tinta

de ser dissecada

expondo a ossatura

de cada palavra

a entranha trabalhada

maleadas pela mão laboriosa

esmerada

que, se respirasse,

não escrevia tanto

e nada.