JÓIAS LENTAS

JÓIAS LENTAS

Se o que querias

Era apenas tocar

O infinito

Já o conseguiste:

Apenas beijaste o nada.

Tuas pernas cansadas

Erguiam-se para outros passos

Tropeçando em fracassos,

Forçando tanto o espírito.

Tinhas alma de granito

BORDADA COM MÁRMORE DE CARRARA

Uma gaivota pequenina, lépida

E sorrateira, quase que mergulha.

A lancha ia tão devagar, tão

Quase a parar de imensidão

Nas pequenas ondulações em leque.

A cidade, quente, fumega.

As pessoas pegajosas, elásticas

Quase (caramelos de leite)

O sol quase ardente

O mundo quase quase

ABRILHANTADA POR COR DE AMETISTA

Se o que querias

Era apenas acariciar um corpo

Já o conseguiste

E apenas amaste o vago.

Uns tantos músculos

Ossos carne sangue

E pensamento

Dentro de ti o fogo arde

Incendiando lentamente

AQUECENDO AS JÓIAS OCULTAS PELO TEMPO

Buscavas, anseio tanto e nada.

Um pássaro raseava devagar.

Se o que querias eram os contornos

do corpo,

Nada atingiste: gozo morto

As mãos solitarizadas

As pernas cansadas

Os olhos vazados

Os ouvidos amargos

Ações amordaçadas

Nem mármore nem pedras

Nem fogo nem terra

Mais nada

Apenas uma lembrança

Ludibriada.

A lancha partiu, enfim

Arrancou de vez do paradismo.

Um tubo plástico boiava na baia

Como último vínculo, eterno

Entre mim, tu e o nada.

Simplesmente complicadíssimo.