JÉSUS II

JÉSUS II

Eles se vão

com a rapidez demorada

de um espetáculo

deixando um vão no peito

um cheiro de flor

cavando nossas lágrimas

Nós, que choramos pela falta

que sentiremos e não pela ausência.

Partem

Às vezes tão subitamente

que ouvimos-lhes as tosses

os ruídos familiares

até bem depois que não estão

Eles

ausentes às preocupações

falam entre si em seus túmulos

riem dos epitáfios

cumprimentam-se entre terra

e origem

Insatisfeitos sempre

ouvem tôlos dizendo

que fariam tudo novamente

e riem entre si

numa maçonaria de arrependimento

Dia menos dia regressam

cabelos revoltos por procelas míticas

olhos esbanjando faíscas

nada contando de suas aventurações

nada falam do lar no limbo

nem se comovem pelo vácuo nos corações

Bem sabem eles que os vazios são egoísmos

as lágrimas, pura metáfora

Acenam as mãos descansadas

Sorriem de suas tranquilidades

para os acá desejosos

de juventude a vida inteira

Aborrecidos de humanidades

embarcam em seus navios

desatracando para o vazio

No porto dos vivos

as mãos descarnam adeuses.

O dia termina como um martelo

no tímpano.