JÉSUS
JÉSUS
a geovalina
As mães escrevem cartas extensas
sobre a morte dos filhos.
Eles, os que acabam consigo,
vão para terras menos tenras
enquanto as mães escrevem longas missivas
à paciência dos vivos,
choram sobre velhas camisas,
ou fotos, carregando nos colares
dentes de leite dos rapazes.
As maes amam os filhos que se findam
por amor como se fosse um amor delas.
Debulham seus topázios sem linha
nos rastros perdidos entre as panelas,
fraldas, cuecas, fotos de casamento
e as maes, assim, sao um momento
de maos erguidas e abanadas com a esperan‡a
de que em outros úteros brotem novamente crianças.
Seus bojos, envelhecidos e imprestáveis,
esforçam-se em partenogêneses
para vidar os miseráveis
que partem rilhando os dentes
deixando no ar um cheiro escuro de pólvora
um som seco de pistola
um buraco no ventre, no peito ou na cabeça
para que a mãe, burra, não esqueça
o feto que se arquitetou homem
com fundamentos em outros sonhos.
As horas passam lá fora, em estrepitosa desordem,
obrigando as maes a olhares tristonhos
na espera de que os passos do vizinho
sejam os do seu menino;
que um passar de vento na porta
seja a presença de u'a mao já morta
que nada afaga, acarinha
que desfaz-se como farinha
sem recompor-se, repleta de dó
para com a mulher só
que exala de pulmoes murchos
uns ares de arbusto
tentando dar ao ar
condiçao de fazer respirar
a boca que desfaleceu seu pranto.
E disforme nunca mais dirá te amo.