INVESTIDA

INVESTIDA

A solidão da tua mão

Sobre a pele morna do meu braço

É investida desajeitada

De desejo envolvido pelo cansaço.

Tua boca, lapidada pelo batom

Recita palavras aprendidas no magazine.

Tuas orelhas furadas, piercing, brincos:

Não se se renego ou suicido.

Tua mão branca no meu braço rijo

É garra profunda, marcada de vermelho

Que me impede de ir ao fundo

Na liberdade inconsciente do teu sorriso.

Arrasto, em cada falsa palavra que pronuncio,

Uma verdade que o pensamento resguarda.

Minha misancene é deplorável, concordo.

A intenção é de fuga. Meu cio.

Meus olhos astigmatizam todas as luzes

Que teu corpo, algodão, linho, refletem.

Dentro de mim, invertida, seduzes

Órgãos soltos do meu instinto.

Vinho branco sobre a mesa.

O copo manchado pela tua boca.

As pessoas dançam,

Teu hálito de uva na minha nuca.

Furto, de algum tempo passado

Uma lembrança inapreciável.

Deposito em teus ouvidos uma fantasia:

“te amo”. A boca, ahn, extasia.

Arrasto sons para minha boca

Dedilho palavras esparsas

Finjo contentamento. O desejo não o nego

Muito embora a vontade seja de fuga.

No ruge-ruge do vestido

Atiças-me ainda mais a libido.

O teu olhar de vidro, verde acrílico,

Alenta meu próximo delírio.

Sob as vestes, sob a carne, sob o sobre

Esconde-se algo que não se denuncia.

Porquê interrogas tudo, quase implorarias

Se soubesses do tédio no meu sorriso.

Tuas razões são-me convincentes

Mas não servem de estímulo.

Sob o sobre, angústia.