INCOMPTO

INCOMPTO

São essas noites enviuvadas

que me lançam para frente

Silencio de coisas

Silencio de pessoas

Dias emparedados em mim

essa casa que de repente

virou morada esquisita.

Alguém estará triste como estou.

Queria dar a mão a esse alguém

mas deixei o mundo distante.

As coisas se perderam

As pessoas desapareceram

como se fosse o armagedon

em meu coração.

Queria dar a mão a alguém triste

a um amigo, amiga para chorarmos juntos

nossas dores

Mas a minha é a maior do mundo

e a desse alguém também será

Não caberíamos vivos nessa dor.

Estão acabando os dias

Estão acabando as pessoas

Estou acabando aos poucos

Me desfaço a cada passo

deixando um rastro de destruição

que os amigos chamam depressão

enquanto a boca apenas repete seu nome

em pura invocação

Minha vida é o que meus sentidos têm

para lhe oferecer;

o que meu corpo pode construir em sua

homenagem.

Fui servo durante tanto tempo

que essa liberdade me escraviza

Sinto falta dos grilhões das suas risadas

da cadência das tuas palavras

dos seus olhares que contavam histórias.

Essas coisas construídas dia-a-dia

com uma mão no ombro

um beijo de bom-dia

caminhar devagar para o futuro

que se desespera quando o chão fende

levando tudo, alúvio, para a terra do nunca.

São essas noites enlutadas

que me lançam a essas palavras.