HORDAS

HORDAS

As mulheres daquela cidade

Deitavam sãs

Acordavam gestantes

Carregando no ventre

Novos homens.

Os homens daquele povoado

Matavam muitas reses

Acendiam fogueiras

Bebiam a noite inteira

Quando eram homens de paz.

As mulheres de ventres salientes

Ensinavam aos seus filhos, nos ventres

A pensar nos inimigos

Abusar dos perigos

A portar espada e marchar nas falanges.

Os homens saiam

Inventavam guerras

Iam e vinham

Matavam e morriam

Voltavam cegos, mortos. Estóicos.

As mulheres os amparavam

Davam-lhes os corpos inchados

As tetas lactantes

Cuidavam deles com esmero

Até vê-los de pé, prontos para outro desespero.

Os homens, dantes estropiados

Eram novos homens valentes,

heróicos soldados.

Cegos, aleijados, dementes:

Homens de fazerem outros filhos

Capazes de brigar com o mesmo brio

D´antigamente.

As mulheres pariam

Criavam, cuidavam e perdiam

Seus filhos para os conflitos e rampeiras

Para as noites de paz e bebedeira

Que os pais cegos, aleijados, faziam

Assim, os homens tinham

Sempre novos motivos

Para empurrarem seus filhos

Para as guerras que faziam

Para os netos, filhos e amigos.

As mulheres esperavam, tocaiavam

Corpo teso de medo e respeito

Esperando o regresso de maridos e filhos

Que, às vezes, voltavam; às vezes, ficavam

Nos conflitos; com as rameiras. Depois elas se acostumavam

E pariam novos filhos.

Os homens sorriam

Vendo as mulheres deitando sãs

Acordando prenhes

De novos filhos que supririam

As falhas nas hordas

Que investiam e ficavam,

Voltavam e emprenhavam

Outras mulheres para novos

Reboliços com outros povos.