HOLLIDAY

HOLLIDAY

Ela me olhou apertado

Cenho franzido

Ar cerrado

E beijou

Como quem extrai nota fiscal.

A fitei

Olhar de fera

Consumidor com pressa

Operário atrasado.

Ela fez trejeitos de moça

Desenhou na camisa sua boca

Riu. Sua esperança, freezer.

Sua inocência: pediu cheese.

Assenti. Paguei.

Namorei sua fome

Cheese alimentoso

Mais que qualquer liberdade

ou dogma suntuoso.

A carreguei nos braços

Tropeçando nos cadarços.

Subi degraus milhares

Até bater no 1º. Andar.

Ela de Campari

Eu com pouco tudo

Ela bebericava

Eu vertia o mundo

Engolia fogo

Ela combinava

Eu contrastava com o lençol

Até confundir

Abraçar a cama e me subtrair

Amando a colcha

Beijando a cama às suas pernas

Ela, sem falar,

soFria em outro lugar.

Até que acabou

Ela se levantou

Se destacou

Contra a luz do quarto

na frente do pôster da Contigo.

Ela era atriz

Eu, encenando gestos primitivos.

Todo beijo era uma boca que errava.

Declamei versos para a multidão

Comprimida no coração.

Ela era todas as mulheres

Que aplaudiam minha solidão.

Ela com Cuba Libre

Eu, cervejas e tristeza.

Me agarrou, filosofias

Sonho apagado.

Acendeu memórias no quarto alugado

Até raiar o dia.

Despedir

Correndo no relógio

Operário apavorado

Para extrair nota fiscal

Com olhar cerrado.