Nada há fora de mim

Nada espero

nem as esfuziantes alegrias

nem a monótona tristeza

tudo é o espelho onde me miro

tudo é a sombra falaz sobre os meus olhos

tudo é Mara no engodo da alma cega pelos dias e noites irisados

a alma longe de casa

ilha sob a noite indecifrável

esvaecida e insondável noite

que fecha os olhos ao crepúsculo

máscara do Paraíso

contempla o Tempo atemporal das estrelas

um tempo que ouviu as profecias

e que guarda como promessa o passado

e as insidiosas palavras sem memória

Tempo de fogueiras e cinzas

cansadas miragens onde nascem as primevas guerras

que se arrastam na escuridão do entendimento

e na intolerância desta vida

de garatujas enigmáticas

traçando sob o pó rarefeito e irascível,

que não conhece o perdão,

a sentença inescrutável da discórdia

e do engano humano

Não beba eu da mentira que nasce na fonte

da tristeza e do vazio

Que eu aceite que a vida é esta manhã na qual acordo

e seja feita de sol ou de chuva que sou eu quem esplenderá

os meus ato à luz do sol

ou lavarei os meus erros nas águas justas da chuva

e aceito sem pressa ou enfado o Dia que a Vida me deu

Que eu ouça o meu coração por trás das máscaras

e busque ver para além da sombra

as claras e refulgentes faces encobertas pelas aparências

semeadas em mim pela mão da soberba

e que me fala pelo sibilo das serpentes implacáveis

Que eu ouça o Verbo, antes que este se confunda

com o amargo passado que há em mim como um veneno,

triste veneno,

séculos de horrores,

reverberam dentro de mim

e estão aqui e agora

enquanto tento sorrir

(...)

As luzes vão se cambiando em vermelhos e laranjas e lilases

As luzes, nos finais de tarde, são o poema do principio dos tempos

A noite se acerca dos beirais onde a lua se fia e espera

O dia silencia seu monólogo

NADA há fora de mim