MENINAS QUE GOSTAM DE MENINAS

Em desapressado e gracioso ritmo

Trafega por toda a extensão de um ponto barítimo

Crescida e bela menina.

Caminha até que a vejo chegar

A uma mesa bem próxima da minha,

Onde, há tempo e muito discreta,

Tulipa de chope sorvia,

Outra menina.

Cumprimento inaugural

Transpõe o rito formal.

É, de afeto,

Repleto.

Sem excessos de extravasamentos.

Meus olhos atentos,

Expectantes,

Enxergaram: feminina,

Mão da menina

Que chega

Aconchega

Face da outra menina.

Eis pois que a mão suavemente desliza,

Passeia

E rastreia

O rosto da menina

Que lá já estava

(sendo dado pensar

que pela outra esperava).

De lábios entreabertos,

E que deduzi, umedecidos,

Recebe da que parece ser "sua" menina

Um sutil ensaio de beijo

Na ponta de um só dedo.

Depois, outros beijos

E seguidamente outros mais,

Intercalados com trocas de palavras e sorrisos, esses beijos

Em dois inteiros dedos,

São beijos

Mais demorados,

Em dedos quase sugados.

Ao seu tanto, beijos sôfregos.

As palavras trocadas não consigo ouvir,

Como ouvir não pude

Sons das carícias trocadas

Entre aquelas meninas

Belas e tão femininas

Meninas

Que deliciam

E se deliciam

Com outras meninas.

Sorriem como que tímidas

E muito ternas,

Uma para a outra,

Como em doce (chocolate com menta ou nozes e baba-de-moça, meus

preferidos) prelúdio,

As meigas meninas

Tão femininas

Que apreciam meninas.

Pergunto-me (invejoso?) se aqueles dedos e lábios finos,

Assaz femininos,

Uma só vez que tenha sido

Tiveram afagado e umedecido

Rostos e dedos de meninos.

Presumo que não.

Bom,

Chamam o garçom,

Pedem a conta (ouvi e também vi

gesto de praxe), compartilham despesa,

Deixam a mesa

E se vão.

Para onde irão?

Olhares masculinos

E também femininos

Acompanham a retirada (aqueles, em perceptível cúpida avidez;

estes, ou ambos com repúdio, talvez).

Frustrante avidez

Pois que decerto não há vez

Para meninos

No universo do amor dessas meninas...

Aquelas meninas,

Ternas e femininas,

As meninas

Que ainda uma vez,

(última que vi)

Tocam-se de leve

E, em passo breve,

Como se o extremo do que publicamente é consentido

Tenham atingido,

Desaparecem de vez

Rumo a destino que talvez

Não pretendam ter por sabido.

A que paragens se encaminham

Aquelas instigantes meninas?

Acaso se tornam felinas

Ferinas

Se menino ou uma terceira menina

Quiser arrebatar-lhes a sua menina?

(não é próprio do ser humano o sentido de posse?

E independente de gênero?).

Daqui das minhas ânsias exclusivas por meninas,

Digo: oxalá que nossas meninas

Venham a ser com seus (nós) meninos,

De igual forma que são com suas meninas,

As meninas

Femininas

Que gostam só de meninas.

obs. sujeito a revisão

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 07/07/2012
Reeditado em 21/09/2016
Código do texto: T3764597
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