NOITE LATIDA

Meu chapéu de cangaceiro

cobre o motor

porque o cacto

é a única ideia

que permanece inteira

embaixo do sol

aonde o jumento

é a força do Rei Arthur e seu bando

na luta contra as Vespas Marcianas

aonde o sonho é sempre uma poeira soprada dos abismos

ecoantes de música e gritaria iluminada

aonde o único rei é a interrogação debochada

aonde demônios são mulheres loucas largadas no vício

da solidão e da festa

Eu ando descalço porque só o santo

é dono da bota

o lenço me envolve a cabeça

não porque seja patriota

mas o cabelo rebelde grita terras fantasmas

qualquer dúvida o galo põe no luar

o muro de uma lamentação bagunçada

porque o cúmulo da velocidade

é nunca envelhecer de tanto sonhar

e eu não sonho e sonho e não divago

porque a cara rasgada

é o meu anúncio de distúrbio

naquela noite latida

dos roubos cada vez mais minguados

das chaves eletrônicas dos abandonados da cidade

aonde anonimamente há trama e rigoroso é o sentenciado