CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PURO, SOBERBO E
CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PURO, SOBERBO E
DESPREOCUPADO SONO DO MENINO
Meu filho dorme.
(Não, eu nunca queria
falar novamente de poesias)
A bronquite, pesada, triste
malígna
dificulta-lhe a respiração.
A bronquite, minha inimiga.
Seu coraçãozinho bate suave.
Seus pulmões puxam o ar, tão
sofridamente, que me dói
o esforço.
Suas mãos tocam sonhos
Seus lábios sorridentes,
até quando?,
os dentes nascentes.
Meu filho dorme na noite quente
No sábado do Senhor
enquanto um futuro vai existindo
o presente se fazendo lá fora
independente de nós.
Meu filho ressona,
encatarrado
levanta, engatinha.
Pego-o. Converso
coisas que ele não entende
Deito-o novamente.
Os filhos são provas indeléveis
de segundos fecundos
de orgasmos profundos
ou acidentes do mundo.
Meu filho dorme,
despreocupado.
O sono não me convence.
O futuro se apronta.
Sem estrondos
o presente acontece,
mesmo durante o sono.
Os homens, sózinhos,
são de grande feminino,
grandes e desorientados meninos
crendo-se capazes de tudo um dia.
Mas não se pode nada
com essa força subjetiva.
As mulheres, de uma certa frieza brastempica
nada entendem de certos conflitos masculinos.
Um homem se alucina, degola
a mulher contempla.
Os homens se matam por idéias
aniquilam-se por nadas.
A mulher é parte mais complacente
mais de sígnos e cabala
de amores por inteiro
em suas meias metades
Nos homens os filhos veem
em partenogeneses
úteros occiptais, cerebrais
masculinos
Meu filho dorme
o futuro envelhece
o presente acaba
durante o sono do menino
que dorme sorrindo
como se nada houvesse além,
aquém, aqui
um mundo sem perigos