CELENTEACELERADO
CELENTEACELERADO
Estou vivendo esta aventura paleolítica
Mas o rádio me avisa que é 1985.
Fico surpreso
E bêbado
Em pleno aniversário de Cristo,
Batucando macumba no crucifixo
Que não me exaspera mais.
Os canais subterrâneos cinzentos
Do meu pensamento
Estão repletos de pedras lascadas,
Polidas, polipropilenos. Acetatos
Em eterna desarrumação.
Puro escombro.
Vivo esta aventura e me assombro
Com minhas partes estendidas
Facilitando a vida tão difícil.
Meu pensamento no micro
Minhas pernas nos motores
Meu sorriso nas bancas de jornais.
Estou dividido, desmembrado
Dissoluto no mundo
Tentando manter os olhos argutos
Na cauda do Halley que vem.
Cato pedaços de mim nas invenções
Nas descobertas
Querendo reunir-me em coisa
Sincera, conjunta, coesa, lógica.
Nesta aventura que tão pouco dura
Espalho-me todo no ritmo do Caribe
Em pleno aniversário de Cristo.
Tenho medusas nas estrelas
Crateras nos relâmpagos.
O assoalho do lar, engolido pela Parquetina
É o solo da mais profunda caverna
Que me deixou assim, delirius tremem,
Enquanto pululava ao redor do monólito
Conjugado em 2001.
Mas não desisto desta festa neandertalesca
Procurando meu par entre sofás e mesas
Nessa tribo vulgar
Dissolvida nas estrelas
Em busca do seu par
No santinho na cristaleira.
Estou bêbado de ilusão e monotonia
Batucando Wagner na cruz.
O ritmo dissoluto da algaravia
Faz martelo e bigorna forjarem paliativos
Rebatendo no aço dos meus instintos
Os urros paleoatualíssimos
Das mesmas palavras.
Em meu robe de chambre
Salto minúsculo sobre todas as matas virgens;
Encontro nas árvores os robustus da minha origem.
Com eles, encho o pote, Estrega, Pernod, glosa e mote.
Mas não desisto
Muito persistam as falanges peludas
Em rascunhar essa macumba
No lenho cruzado da minha abismação
Quase que por pura contradição.
Tenho os dedos cruzados
Os lábios apertados
O cenho franzido
Em meio ao alarido de aniversário.
É javalesca a jornada
Mas não desisto nem espero
Com as pernas cruzadas
Na pele de brim
Respirando fumaça
Enchendo de álcool
O Tonel das Danaides de setenta e dois quilos.
No meio do escuro
Até já descubro, sem raio xis,
O final do muro:
É pedra sobre pedra
Quimera desta era, firulas,
Com gente inventando homem
Que não batuque na madeira
Sua manopla cabeluda.
Estou tonto. Mas alguém há de compreender
Meu excesso de pelos e poemaria
De espanto cromanhônico que ardia
Batucando distraído em tal dia.