CAMPO DE SANTANA

CAMPO DE SANTANA

Pelo Campo de Santana

Toda manha

Passa boi, passa boiada

Auxiliares d´almoxarifado, secretárias

Costureiras, comerciantes

Toda manhã

Pelo Campo de Santana

Onde passam os desocupados

Os soldados do fogo exercitam-se

Os aposentados lançam olhares

Meio maldosos

Meio cobiça

Para as moçoilas que se exibem.

Empregados assustados

Desempregados apavorados

Funcionários acomodados

Trafegam apressados

Há o homem da gilete

O dos espelhos

A mulher do sorvete

O vigilante enfastiado

Crianças uniformizadas

E mães, sempre de guarda.

No Campo de Santana

O desfuncionários observam

As meninas de saias curtas

As mulheres de língua comprida

As crianças sem trelas

Os transportremiférreos

Alimentam peixes de cima da ponte

Miolo de pão, mortadela

Restos de coxinha do ambulante (CR$ 300!!)

Que do portão retumba: olha a coxinha quentinha!!

Os preás do Campo de Santana

Acostumaram-se ao alvoroço

Sem reservas, observam os passantes

Com olhares de menor importância

Comem pipocas de arroz das mãos suburbanas

Passeiam entre os desempregados nos bancos

Obrigam o pelotão cooperpígneo a desviar sua marcha

Quase acidentando as moças do trabalho, que sorriem;

Os homens da cachaça, que espraguejam.

Pelo Campo de Santana, que agora

Tem patos, pavões

Toda manhã

Passa boi, passa boiada

Garis, contínuos, casais enamorados

Lá vão eles

Sem saber

Que sem eles

O Campo de Santana não teria graça

Não seria nada.